1.6.11

Cidinha




Tonhão levantou cedo, jogou água fria no rosto, tomou café quente e fresco e saiu pra trabalhar. Ônibus lotado. Trocou palavras e risadas com Thiago, que pegava o mesmo carro que ele todos os dias. Saltou dois quarteirões antes do ponto da firma, pois havia exagerado no aperitivo na noite anterior: Fla x Flu na TV, amigos reunidos, mulheres e risadas na cozinha ... quartas são assim. Bateu o ponto e foi direto pro seu setor. Logo ligou suas máquinas e colocou os fones novos que Cidinha lhe dera fazia uma semana. O som de sua estação preferida logo abafou a poluição sonora produzida por seu trabalho. Sorriu largo quando ouviu a Roberta dizer que Ela mexe com as cadeiras pra lá, Ela mexe com juízo do homem que vai trabalhar. Viu o chefe passar com cara de poucos amigos. Ele parecia esbravejar algo bem ruim enquanto seguia o coitado do Lucinho. Mas Tonhão gostou de ter a impressão de ter ouvido o chefe dizer que Todo mundo fica louco e o seu vizinho também. Suou, cansou, almoçou baião com carne seca ... hummm. Eh, Cidinha. Voltou às máquinas e suou mais ainda, dessa vez, ao som de Caminhando na ponta dos pés, Como quem pisa nos corações, Que rolaram nos cabarés. Nem viu o tempo voar e, de repente, estava no sofá, suado, tentando descobrir se a greve dos trens estava confirmada para o dia seguinte. Pegaria carona com o Zé, acordaria mais cedo. Banhou-se. Jantou sopa. Comeu goiabada cascão com queijo. Adorava aquilo. E adorava saber que Cidinha serviria sempre seu doce favorito após o jantar. Cidinha sorriu e desmontou Tonhão ao puxá-lo pelas mãos grandes e ásperas, como se o ordenasse que a tirasse dali e a amasse loucamente. Tonhão levantou, sorriu, baixou seu olhar na direção de Cidinha. Amou. Cidinha suou, gritou, aquietou, dormiu. Acordaria cedo no dia seguinte para preparar o café do seu Tonhão.