24.4.11

perspective...




Um dia Yasmin acordou e era apenas Rosa. Não mais ocupava o centro do jardim da casa central ou, sequer, atraía a atenção das crianças que ali brincavam. Em mesa de canto agora ficava, cercada por cravos que as costas lhe davam, pois sempre para a direção da janela apontavam. A brisa não mais sentia em suas pétalas, apesar da sensação gelada que ali havia, contrastando com o brilho do sol que lá fora sorria.

“Mas”, dizia ela a si mesmo, “ainda sou esguia. Brilho e suavidade ainda transbordam de minhas pétalas. Por mais que neguem os cravos, meu perfume ainda embriaga os que ao meu redor se encontram e o sol ainda vejo e dele me banho, mesmo que desse canto, que me dá, agora, diferente vista do lindo jardim, que ainda me encanta e ao qual sempre pertencerei.
Porque sou Yasmin, e rosa sempre serei.”

25.3.11

Uma estória emprestada



Joana acreditou em cada palavra dele. Estava ali para, desta vez, ficar.

Programou-se então para assumir sua condição e gritar a todos sua histeria em ter encontrado um novo amor, ou, ao menos, uma paixão avassaladora que a fazia, já há algum tempo, sentir-se viva novamente.

Pensou e repensou se era mesmo a hora e melhor forma de mandar por água abaixo tudo o que colhera em mais de duas décadas de um relacionamento que, um dia acreditara, seria para sempre.

Planejou e decidiu como seria o fechamento da estória. Pensou e repensou suas palavras com o cuidado de quem coleta pedras já pensando em seu processo de lapidação.

Pensou e repensou as reações de seu parceiro, destruído por dissabores que a própria vida já lhe proporcionara. Chorou. Reconsiderou. Sabia que seria difícil, mas valeria à pena. Tratava-se de sua libertação. A recompensa seria aquele novo amor. Seus dengos e ‘benefícios’.

Ouvira dizer, através de uma amiga recente, que a dor seria, sim, inevitável.
Dolorido, traumático, sem volta. Pensou e repensou...

Afinal, ela era mais do que merecedora daquela recompensa. Liberdade. Ele era louco por Joana. Perturbava-a dia e noite. Cobranças por comprometimento. Desejo de estar junto.

Ela teria sim, que livrar-se de seu passado para, finalmente, mergulhar naquela orgia de sentimentos e sensações que a nova aventura tanto prometia.

Não mais pensou. Tentou. Questionou. Precisava ter a certeza de que...

Aaaah, Joana.

Chorou. Descobriu o que, apesar de óbvio, ela mesma fizera questão de mascarar... A verdade.

Cafajeste. Esperto. Fraco. Pouco. Um merda.

Um outro dia, Joana. Uma outra estória e, sem dúvida, um novo começo.

20.3.11

Um post inho



Hoje me deu uma vontade louca de escrever. Na verdade, o que eu queria mesmo era ter podido gritar. Não sabia, no entanto, ao certo sobre o que seria o tal post. O que era pra ser escrito hoje. Esse aqui, acho eu.

Poderia ter escrito sobre a saudade do Pequeno quando ele vai ver o Pai. Ou sobre a preocupação com a Cruz acamada.

Falar da Flávia Caló essa semana daria pano pra manga. Comentários por email. Sucesso seria também publicar a resenha da vinda da Má ao Brazil...com todos os detalhes das conversas na chaise e no tapete de listras.

Pensei em falar do mocinho que, literalmente, me fará voaaaaaar...ainda mais...rsrs Mas é feio, ele. Gosto não. Gosto mesmo é de noites de casa cheia como as duas que aconteceram no final de semana. Gente linda, risadas, brindes...

Cogitei jogar purpurinas na vinda e discurso bem estudado do Obama, mas todo mundo já o fez no FB. Se ainda o tivesse feito antes da Maria da Luz... :-)

Quase falei da estranheza do que finge indiferença, mas preferi entender seus motivos. Sempre o faço...com todos; mas minha arrogante paciência não mais interessa a ninguém, muito menos a mim, que tanto tento exterminá-la, cansada de tanto engolir e esperar que se acalmem. Chega de sapos.

Poderia falar das confusões da Luluzinha, mas correria, assim, o risco de aumentar o ibope dela... disputa é disputa, Lu.

O encontro com ele não mais tem rendido rendas e laços e não seria sobre isso que, hoje, eu escreveria.

Parabéns para a Marina que é agora casadíssima. E para a Lora, que será a próxima.

Falar da saudade que sinto parece incomodar uns e outros. Afff...o lance é não sentir, então. É isso? Voltaria SIM. Amanhã, se pudesse. Mas não posso. PONTO.

Resolvi então não escrever mais, uma vez que o que eu queria postar aqui é, ainda, assunto proibido. Fica aí, então o rabisco. Só pra constar.

10.3.11

Aceitação




E se de inquietação e sufoco eu depender para viver? E se for essa agonia o que me move, o que me faz respirar? E se disso dependo eu para tirar a força, a pressão de que sempre precisei para fazer minha vida mover-se, realmente acontecer e fazer valer meus momentos?E se inútil for correr atrás dessa paz e quietude de que sempre fugi? Aonde chegarei se continuar nessa busca constante por tudo aquilo que tanto me feriu o ser e que me fez quase explodir de aflição por ver meus dias simplesmente começarem e terminarem, só passarem, em ritmo de tum-tum em quarta-feira de cinzas?
Não...isso não.

25.2.11

A Fazenda



Katerine sentou-se e olhou para o quadro com a pintura da velha fazenda onde morara até tão pouco tempo atrás. Sentiu então o cheiro do verde da grama em que crescera e onde rolara por tantas vezes aos domingos à tarde, depois do almoço com as crianças da fazenda ao lado. Lembrou-se de que, naquela época, achava estar rolando de tédio e inquietação, e deu-se conta de que, na verdade, rolava de prazer por estar ali, livre, vivendo de fazer nada e apenas vendo a vida acontecer. Viu, por trás da árvore no canto do quadro, o desenho dos animais de que tanto reclamara quando queria brincar com suas bonecas, mas a sujeira dos bichos não a permitia ali sentar-se com suas saias brancas e rodadas. Quis a menina nesse momento, sentar-se entre cavalos e pôneis. Só então se lembrou de ter visto pôneis ali. Ocorreu-lhe que sempre adorara pôneis e os tivera em desenhos da escola e na parede do quarto. Chorou Katerine ao lembrar-se, no entanto, de que pouco os tivera curtido, pois quando chegaram seus pôneis à fazenda, Katerine já do lugar se queixava e com a cidade sonhava. Tola Katerine. Katerine tola.

31.12.10

Feliz Ano Outro!!!



Que se mantenham os Amigos. Velhos, antigos, de ontem e sempre. Companheiros e Verdadeiros que são, nas boas e nas más.
Que fiquem as idéias e ideais que nos fizeram felizes e fiéis ao que somos e ao que nos d’a o alimento que faz a alma permitir que o corpo prossiga.
Que os mesmos sejam os prazeres vividos e divididos com quem amamos e admiramos. Com os “Bonecos da prateleira do meio”, sempre indispensáveis e de agradável presença.
Que fique sempre o desejo por descobertas e encontros. Que esse desejo exista para sempre. Velho e bom...desde sempre.
Que não mude o AMOR que sentimos pela Vida e que fingimos ter perdido a cada tropeço bobo que levamos no percurso. Ah, que “os da terceira prateleira” estejam sempre por perto para mostrar o quão pequeno foi o tropeço.
Que surjam sim mais amigos, mais amores, mais amantes, mais desafios e até dissabores, imprevistos, que sejam. Mas que nem tudo seja NOVO, pois na Vida há sempre muito de TUDODIBOM que levamos do que conhecemos, aprendemos, enfrentamos e com o que até nos decepcionamos, mas que nos fazem ENORMES e únicos.
Então, decida você se o viverá como se fosse o primeiro, o único ou o ultimo ano de sua vida. Apenas Viva 2011 com todas as suas forças.
E que ele venha com tudo.
Feliz 2011!!!

30.12.10

Anxiety



Quem está acostumado a ter o controle de toda situação sabe a dor inexplicável que é estar em território desconhecido. A habilidade de fazer mil coisas ao mesmo tempo e ter a certeza de que no final tudo sairá como planejado, pois o processo está em suas mãos, dá ao control freak a sensação de que todo o universo é palpável e que tudo estará sempre na mais perfeita ordem.

Mas, o que fazer quando o passo seguinte não depende só de você? Olhar para o lado e ter que admitir que contar com alguém é, além de admissível, a única alternativa no momento? À frente, apenas a incerteza do que pode acontecer e a dúvida a respeito de como suportar esse tormento.

Há quem sofra com a mesmice. Há quem enlouqueça perante a falta de rotina e CONTROLE.
Como saber distinguir entre conforto e controle? Até aonde vai a necessidade de conhecermos o território em que pisamos? O inimigo que enfrentamos? O amor que encontramos? O sonho que vivemos?

O que dói menos: o “será que devo?” Ou o “eu não deveria ter?”.
Quem inventou a tal da ‘’zona de conforto’’? O ‘’porto seguro’’?
Conforto? Ou Controle?

Há certas habilidades que só são desenvolvidas quando se fazem necessárias, dizem. É a mulher que pari e logo desenvolve o instinto materno para cuidar de seu filho; do mesmo jeito em que o viúvo o faz, por assim ser necessário. A criança que, ao tornar-se adolescente, logo trata de aprender a se virar sem os pais, pois a independência vai dando-lhe ar de responsabilidade e reconhecimento. O novo gerente que logo trata de descobrir razões para reuniões e projetos, a fim de fazer jus à confiança que lhe foi dispensada.

Assim, então, espera-se que também o faça o controlador. Que aprenda a trabalhar com o inesperado, com o elemento surpresa. Que se deixe levar por emoções e, até quem sabe, dissabores frutos de escolhas mal planejadas e intempestivas.

Que se deixe viver. Que pague pra ver.

Será?

21.12.10

O sabor da conquista




Hoje pela manhã vi um flash de uma entrevista com ‘bonitinhos’ da TV a respeito de “Pessoas que tem a pagada boa”. Todo mundo fingiu que o assunto foge completamente ao apelo sexual e falou-se apenas em bom papo, olhares e, no máximo, boa química entre o casal. Okay.
Lá pelas tantas, a pessoa entrevistadora começou a falar na “Pegada Feminina” propriamente dita e quis saber se o tema tem algo a ver com a coragem ou disposição das moças em ‘chegar junto’, ‘dar o primeiro passo’, ‘approach’, ou seja, colocar a fila para andar. Sorrisos à mesa, e algo foi dito a respeito do fato de a mulher ter descoberto que pode sim dar o primeiro passo, o que é algo positivo, segundo ao moçoilos – se é que entendemos direitinho, mas que o que vale ‘é o sabor da conquista’.
Hoje em dia, existe uma corrente que admite que todo o frisson de se ter alguém acaba no exato momento em que você o conquista. Explico: Você, pessoa, por alguma razão, interessante, é vista e desejada por alguém. O outro lado investe e ‘realiza’ que não foi correspondido. Inicia-se aí uma caçada em que o objetivo final é, sim, sim, A Sua Pessoa. “Que delícia”, você pensa. Hmmm, tá. Depois de resistir um pouco, pensa: “Poxa, essa pessoa deve ser legal e só pode estar mesmo a fim de algo bacana”. E cede. Sai com a figura. Doa-se um tiquinho. Descobre que realmente é possível passar um tempo e ver qual é.
“que todo o frisson de se ter alguém acaba no exato momento em que você o conquista”. Lembra? E aí acabou o encanto. O que valeu mesmo foi a arte da conquista, ou melhor, o sabor.
Então, a brincadeira é assim: O rato foge do gato. Que enlouquece por querer muito o roedor. Este, por sua vez, enlouquece pelo fato de ter que viver correndo de seu objeto de desejo...por simples medo de perdê-lo.
Confuso. Real.

16.12.10

O Colecionador




Léo colecionava pessoas. Tinha em seu quarto prateleiras e mais prateleiras repletas de figuras ilustres e ordinárias, todas misturadas, sem muito critério de organização. Femininas e masculinas, como se o propósito fosse realmente apenas o acúmulo, o número, a quantidade.
Um dia, questionado por uma criança que não entedia o porquê de um adulto colecionar ‘brinquedinhos’ assim, Léo falou de seus ‘bonequinhos’. Disse o quanto a coleção era rara e o quanto havia sido prazeroso e, ao mesmo tempo, trabalhoso levantar aquele número.
“Há quem me divirta com sua tolice e ignorância. E a esses nada mais devo do que a última fileira da prateleira lá de baixo. Aquela sem destaque algum. Que ninguém enxerga e na qual ninguém quer mexer.
Os que apenas me seduzem por tamanha beleza ficam ali, veja bem, logo a sua frente. Mas bem no alto, pois lindos e plasticamente perfeitos, logo me cansam com sua obviedade e não mais agüento mira-los diretamente. Os vazios estão nessa mesma prateleira, mas na fileira lá de trás. Nem podemos vê-los, percebe?”
A criança achou que começava a entender aquela idéia absurda e prosseguiu, “Você deve gostar da prateleira do meio.”
“Agradáveis são essas aí. Estão sempre acessíveis e é muito bom que assim seja. Trazem-me conforto e segurança. Lutei e lutaria novamente por elas. Não mexa. Deixe-as aí.”
“E por que aquela está vazia? Também, logo abaixo da janela?”, curioso.
“Ah, criança. Ali é o lugar dos escorregadios. Dos que a mim intrigam a cada momento e por quem luto ao mesmo tempo em que deles fujo. Nessa prateleira está o que me desafia e o que me tenta. O que quero e do que corro. Há dias em que está cheia. Hoje está tudo bem. Está tudo tranqüilo.
Agora vá. Brinque com seus próprios bonecos.”